
Por Marcos Correia
Não consigo pensar em pessoa melhor para representar o Dia do Trabalho do que este aí da foto.
Foi padeiro e guarda noturno antes de decidir não ter mais patrão e abraçar a carreira que virou quase que um sobrenome. Manoel Correia da Silva, meu pai, que todos conheciam como Manoel Fotógrafo.
Não imagino quantas fotos ele fez durante a vida. Muitas por prazer. Temos uma infância registrada em detalhes nas fotos que ele tirou de mim e do meu irmão. Fomos crescendo e ele registrando tudo, com a mesma insistência.
No trabalho, foram incontáveis aniversários, casamentos, festas, eventos públicos que ele registrou com suas lentes. Era o fotógrafo dos encontros familiares, dos momentos importantes de uma multidão de pessoas.
Lembro-me de um sábado em que ele fotografou oito casamentos. Oito! Fazer o quê? Até existiam outros fotógrafos na bela Campos do Jordão, mas todos queriam o melhor…
Ele era severo ao contratar os serviços, a ponto de mudar a histórica tradição das noivas chegarem atrasadas. ” Veja bem, depois do seu casamento tenho que ir para outra igreja fotografar outro. Por isso não se atrase. Se atrasar, fica sem foto”, avisava. E as noivas não ousavam desafiá-lo. Nunca em nenhuma outra cidade do Brasil se ouviu falar de noivas tão pontuais como em Campos do Jordão. Os padres apenas sorriam, agradecidos.
Num aniversário da cidade, em 29 de abril de 1991, saiu de casa cedinho com a máquina fotográfica para registrar o desfile cívico. Só fui vê-lo bem mais tarde, quando fui pra rua comprar jornal. Ele estava lavando o carro depois de ter trabalhado no desfile a manhã inteira.
Quando voltei pra casa com o jornal debaixo do braço, ele estava caído no quintal, perto do carro, com a cabeça no colo de minha mãe. Infarto – o único que sofreu na vida. Ele tinha descoberto há poucos anos que sofria de mal de Chagas, provavelmente contraído ainda na infância no sertão da Bahia.
Pode-se dizer literalmente que trabalhou até o último momento.
Foi esta a maior lição que deixou, de muitas que passou para mim e meu irmão. O amor ao trabalho honesto.
Nesta data em que todos se levantam para defender os direitos dos trabalhadores, a lembrança que guardo é de alguém que sempre honrou seus deveres.
Manoel Correia da Silva
*11/11/1939
+29/04/1991
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Obrigado por republicar, Pancho!